Florestan Fernandes, como poucos, conseguiu articular o trabalho intelectual com a militância. Para ele, analisar o Brasil em perspectiva acadêmica só fazia sentido se servisse para contribuir para apontar caminhos para o país. As "esperanças do socialista militante" se materializaram na adesão ao Partido dos Trabalhadores e na candidatura vitoriosa a deputado federal, quando o Congresso assumia a tarefa de escrever a nova Constituição, no momento da redemocratização do país.
É essa visão que orienta as páginas de Pensamento e ação, publicado em 1989, pouco depois de promulgada a nova carta constitucional. Uma reflexão sobre o Partido dos Trabalhadores feita pelo intelectual e pelo cidadão. Trata-se de coletânea de material variado produzido durante a campanha eleitoral e o exercício do mandato de deputado: artigos de jornal redigidos entre 1984 e 1988, entrevistas, discursos, boletins da sua campanha eleitoral, debates parlamentares dos quais Florestan participou, diálogos com militantes do PT e um ensaio que faz o balanço dos dilemas enfrentados pelo Brasil ao final da década de 1980.
O livro apresenta a faceta militante do intelectual, mas de modo a mostrar como reflexão teórica e a militância não podem ser dissociadas. Segundo Florestan, "uma reflexão socialista sobre a conjuntura ou sobre processos de média e longa duração não é simplesmente crítica. É militante, e a sua implicação é a prática política de negação e transformação da ordem".
O livro ajuda a compreender um momento importante da trajetória do partido que chegou recentemente à presidência da República e que hoje enfrenta a pior crise de sua história. Os dois livros são assim testemunho da história e ao mesmo tempo uma reflexão sobre ela.
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