História do Livro
"Foi o medo que me orientou nos primeiros anos, pavor." Essa descrição fria das páginas iniciais dará o tom do magistral relato autobiográfico que é Infancia, publicado em 1945. Nele, Graciliano Ramos (1892-1953) re- passa os primeiros anos vividos no interior de Alagoas e Pernambuco.
A violência familiar, a seca, a opressão dos coronéis e o nascimento do desejo nos são apresentados numa prosa cortante, isenta de sentimentalismos. As- sim, em casa sofria "pancadas, gritos, chicotadas, puxões de orelha"; lá fora, só via a "devastação, calcinação" da paisagem agreste; c, ao deixar a fazenda e mudar-se para o vilarejo de Buíque, considera-se então "fora da realidade e só", "em abandono completo".
Graciliano Ramos condensa aqui o estilo e os temas presentes em obras- primas como Angústia (1936) e, sobretudo, Vidas Secas (1938), Mas vai além, tanto na força das imagens -Buique "tinha a aparência de um corpo aleijado"- quanto na psicologia do pai, de ecos kafkianos -"Meu pai era terrivelmente poderoso, e essencialmente poderoso. Náo me ocorria que o poder estivesse fora dele".
Adotando um ponto de vista mais distante ao narrar seus anos de forma- ção, Graciliano envereda por questionamentos metafisicos que apenas vislumbrar em suas narrativas anteriores. E assim que, ao ser uma vez mais vítima das arbitrariedades dos pais, crava: "O juízo dos homens cra esquisito. Bem esquisito". Infância mergulha fundo nas motivações imponderáveis das ações humanas, buscando encontrar um sentido que explique tanta dor e tanto sofrimento.
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